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Jovem Guarda

16 jul

Boa tarde para todos! Selecionamos este artigo em homenagem ao dia do Rock, como hoje é sexta-feira, nada melhor do que relaxar (e aprender) com um bom estilo de música!

Tenham um ótimo fim de semana e até o próximo post!

Fernanda Abreu

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A Jovem Guarda

Por Fernando Rosa

Em meados dos anos 1960, um “movimento” explodiu no Brasil, mobilizando a juventude nacional como jamais ocorrera na história cultural do país. Na onda mundial da beatlemania, a jovem guarda, no entanto, tinha uma cara própria, com signos, conceitos e musicalidade especial. Assim como os Beatles e seus seguidores, Roberto e Erasmo Carlos e sua turma inspiraram-se nos mesmos heróis do rock ‘n’ roll dos anos 1950 para produzir um repertório particular. Se os fab four tiveram sua escola nos bares de Hamburgo, na Alemanha, os dois, mais Tim Maia, Jorge Ben e o tecladista Lafayette, entre outros, formaram sua base na “turma do Matoso”, que se reunia na esquina da rua Haddock Lobo com a Matoso, no Rio de Janeiro. E em grupos praticamente ignorados, como Os Terríveis, The Sputniks e The Snakes.

Em 1965, os Beatles haviam tomado o mundo de assalto com o filme A Hard Days Night, enquanto, no Brasil, Roberto Carlos já era um sucesso nacional com hits como Parei na Contramão, É Proibido Fumar e O Calhambeque. É nesse contexto que estreou, em 22 de agosto daquele ano, o programa Jovem Guarda, comandado por ele, Erasmo Carlos e Wanderléa, na TV Record, sediada em São Paulo. Com o nome inspirado numa máxima do revolucionário soviético Vladimir Lenin – “O futuro pertence à jovem guarda, porque a velha está ultrapassada” –, por sugestão do publicitário Carlito Maia, o programa atingiu 90% de audiência na pesquisa do Ibope logo nas primeiras semanas. Com a MPB refém do tradicionalismo, o programa acertou em cheio a jovem alma nacional sedenta por integrar-se àquele mundo de novidades.

Projetado por uma empresa de publicidade, o programa Jovem Guarda, ironicamente, surgiu como uma alternativa para ocupar a grade de programação da TV Record no lugar da transmissão dos jogos do Campeonato Paulista de futebol, que havia sido proibida. Também fruto da circunstância, o programa acabou sendo apresentado por uma trinca de amigos, com uma menina descolada, ideia perfeita para a época, e diferente do plano original – e tradicional –, de apresentar a dupla Roberto & Celly Campello (a cantora não aceitou a proposta). Era ainda para ser chamado de Festa de Arromba, na carona do hit de Erasmo Carlos, mas os próprios músicos advertiram que a passagem do sucesso enfraqueceria seu nome.

Jovem Guarda também inaugurou no país uma inédita indústria de merchandising, com venda de vestuários e de bonequinhos, entre outros produtos, e também estimulou o surgimento de uma rede de publicações. A principal delas foi a revista Intervalo, da editora Abril, voltada para o mundo da televisão, distribuída semanalmente em todo o país, depois de circular apenas em São Paulo e Rio de Janeiro. A revista Melodias, subtitulada “A revista da mocidade”, também nasceu em meados da década com o mesmo foco, enfatizando a música jovem. Importante, mas com menos peso, a Revista do Rock, surgida na década anterior, era editada pela jornalista e compositora Janete Adib.

Em 1966, com o sucesso do programa, a TV Record organizou o Festival de Conjuntos da Jovem Guarda, com eliminatórias em diversas regiões do país, que mobilizaram milhares de grupos e intérpretes. Na final, realizada em São Paulo, sob o comando de Roberto Carlos, classificou-se em primeiro lugar o grupo paulista Loupha, com o cover de I Can’t Let GO, dos ingleses The Hollies. Em segundo lugar ficou o grupo gaúcho Os Cleans. Já o primeiro colocado entre os intérpretes foi o mineiro Vic Barone. Nessa época, a TV Record contratou o cantor Ronnie Von, o “príncipe” da jovem guarda, e colocou seu programa aos sábados à tarde, o que para muitos era uma estratégia de “congelar” um possível concorrente para o “rei”. Com os artistas priorizando a participação no programa Jovem Guarda, o programa O Pequeno Mundo de Ronnie Von acabou limitando-se a apresentar e revelar artistas de “garagem”, entre eles Os Mutantes.

Outros programas surgiram e, junto com eles, centenas, milhares de compositores, intérpretes, duplas e grupos, em todos os estados do país, que tiveram mais ou menos sucesso em sua carreira. Entre os principais, Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, Sérgio Reis, The Fevers, Wanderley Cardoso, The Golden Boys, Eduardo Araújo, Os Vips, Ronnie Von, Silvinha, The Brazilian Bitles, Vanusa, Jerry Adriani, Martinha, Lafayette, Getúlio Cortes e Fred Jorge. Algumas cenas regionais se destacaram, particularmente a de Minas Gerais, com sede em Belo Horizonte, com o selo Paladium, responsável pela edição de diversos compactos e LPs de artistas locais.

Com sua aparente ingenuidade política, a jovem guarda provocou incompreensível reação dos expoentes da tradicional MPB e da intelectualidade oficial, que declararam guerra “ao iê-iê-iê de Roberto Carlos e seu programa Jovem Guarda”. Num dos maiores micos da história da música brasileira, um grupo de artistas foi às ruas em manifestação que ficou conhecida como “a passeata contra as guitarras elétricas”. No entanto, distante do surto de nacionalismo equivocado, Maria Bethânia tratou de acordar seu irmão para o poder daquela nova linguagem musical. “Largue esse violão e cante com uma guitarra. O violão é muito pouco para você! Escolha um instrumento que tenha o mesmo grito, que tenha o seu gesto”, disse ela a Caetano Veloso.

A jovem guarda, como sacou Maria Bethânia, falava para milhões de jovens dos confins do Brasil ou, naquele momento, migrantes para os grandes centros urbanos (assim como seu ídolo, que, não por acaso, saiu de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, para o Rio de Janeiro e, depois, para São Paulo). Com uma linguagem direta, não intelectualizada e, no caso de Roberto Carlos, com uma particular e cativante doçura quase caipira, a jovem guarda falava da paixão por carros, da solidão nas grandes metrópoles, dos amores impossíveis e de tipos estranhos. Bem como Elvis Presley fundiu a música dos negros e a dos brancos pobres americanos, Roberto Carlos, em especial, uniu o rock internacional e a modinha interiorana, com um incrível senso de modernidade. Enquanto Chico Buarque de Hollanda é lembrado como o grande poeta da consciência nacional dos “anos de chumbo”, Roberto Carlos foi uma espécie de pós-James Dean suburbano, romântico e humilde.

Além do conflito com a MPB tradicional, as relações da jovem guarda com o rock vigente naquele momento não era das melhores, com uma nítida separação entre os dois movimentos. Os roqueiros mais tradicionais, fiéis aos padrões externos em voga, principalmente americanos, recusavam-se a aceitar a linguagem da jovem guarda, classificada por eles como “brega”. Essa falsa dicotomia foi rompida pelo tropicalismo, que passou a incorporar em seu repertório canções de Roberto Carlos e de outros autores, de que são exemplo os primeiros discos de Gal Costa. Nos anos 1970, o grupo A Bolha chegou a gravar um LP sob o título de É Proibido Fumar e, nos anos 1980 e 1990, o gênero foi sendo gradativamente incorporado pelas novas gerações roqueiras. Atualmente, não apenas Roberto Carlos, mas a jovem guarda e a maioria de seus artistas compõem o universo de referências e influências das novas gerações do rock nacional.

Em 1972, ainda cumprindo um papel de contribuição para o processo de aceitação do movimento pelas elites nacionais, o escritor, poeta e músico Jorge Mautner afirmou que “Roberto Carlos é puro instinto empírico e produto de uma sociedade de massas; o primeiro pan-americano da mídia e do pop”. Segundo Mautner, em artigo para o jornal Rolling Stone nacional, “Celly introduziu o rock com batida de fox, mas não tornou isso um produto sincretizado. Era sempre uma importação artificial, ‘a versão’, na qual ficou famoso Fred Jorge. Roberto inicia-se aí nessas turvas águas de um rock importado e simplesmente traduzido, mas torna isso um produto complicado, sintetizando-o com uma alma e melodia brasileira, fabricando um inconfundível produto pan-americano”. Para Mautner, Roberto Carlos promoveu no terreno do rock a mesma síntese entre as culturas musicais americana e brasileira que João Gilberto havia produzido entre a bossa nova e o jazz.

Em 1968, o programa Jovem Guarda acabou, depois do afastamento de Roberto Carlos e da tentativa de prolongá-lo apenas com a dupla Erasmo Carlos e Wanderléa. Apesar de sua curta duração, a jovem guarda teve para a cultura musical do Brasil, guardadas as proporções, a mesma importância que a beatlemania representou para o mundo, em todos os aspectos. A obra da dupla Roberto Carlos e Erasmo Carlos, em quantidade e qualidade, ironicamente, se lembrados os críticos iniciais, tem uma importância fundamental para a construção da “nacionalidade” musical brasileira. Em qualquer ambiente, independentemente da classe social, sempre haverá alguém ouvindo ou cantando alguma das canções que Roberto fez para a sua e para as futuras gerações.

Fernando Rosa é editor do portal Senhor F, produtor e apresentador do programa Senhor F sem Fronteira, veiculado pela Rádio Câmara, e organizador do festival El Mapa de Todos.

Fonte

 
3 Comentários

Publicado por em 16/07/2010 em Arte e Cultura

 

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3 Respostas para “Jovem Guarda

  1. Camila Barros

    20/08/2010 at 17:28

    Parabéns pelo ótimo texto.
    Gostaria de saber mais sobre o vestuário da Jovem Guarda…
    Seu puder me informar mais sobre as roupas que eles usavam, se possível com imagens, ficaria MUITO grata.

    Agradeço desde já.

    Camila Barros

     
    • 1500brasil

      24/08/2010 at 16:11

      Boa tarde Camila, desculpe-me pela demora em respondê-la, estamos produzindo novo post com recortes da moda nesta época até o final desta semana! Espero que goste e agradecemos por sua vista!
      Fernanda Penna
      Equipe 1500 Brasil

      PS: A wipedia americana possui algumas imagens interessantes a respeito da moda nos anos 70 caso esteja interessada: http://en.wikipedia.org/wiki/1970s_in_fashion

       
  2. armand michel cassyl cohen

    05/09/2010 at 16:26

    bom dia ,boa tarde, boa noite
    prezados snrs
    venho por meio pedir uma ajuda para entrar em contato com os cantores da jovem guarda com quem trabalhei nos anos 1960
    sao eles luis carlos clay, tony ricardo, e vic barrone
    aguardo noticias
    abs
    armand cohen

     

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